Conta-nos uma história fantástica que se não fosse fundamentada em factos verídicos nos deixaria mais tranquilos. Infelizmente, a acção decorre numa época da História portuguesa que envergonha qualquer cidadão : a inaceitável violência e intolerância religiosa de então, vinda de quem vem, provoca um enorme desconforto no "espectador". Contudo, Zimler possui a arte da sedução; depois de inúmeras hesitações acabamos por espreitar as páginas mais adiante e, embora desconfiados, deixamo-nos ficar. É com desassombro que somos conduzidos, através dos becos e vielas da Lisboa de 1506, ao tempo de D. Manuel I, rei "Venturoso" para uns, cobarde para outros a quem temeu socorrer. Era Abril, comemoravam os judeus portugueses, cristãos-novos obrigados à conversão, a sua Páscoa. Guiada e açulada pelos Dominicanos, a turba percorreu as ruas da capital matando sem demonstrar arrependimento, sem o perdão da apregoada piedade cristã; os frades e a população invadiram casas, palácios, escolas, oficinas, padarias, sinagogas, hospitais, balneários públicos, chacinando todos aqueles que cheirassem a "marrano", nome comum de quem fosse judeu; homens e mulheres, velhos e crianças, sãos e doentes, ricos e mendigos, foram mortos sem que Cristo o impedisse. Não houve milagres; feito o frio balanço, dois mil portugueses tinham sido decepados a machado ou queimados vivos no Rossio, acusados de judaísmo. Esta história centra-se, precisamente, num desses que fora cruelmente assassinado, na sua cave. Abraão, um cabalista famoso, é assassinado na sua cave e cabe a Berequias Zarco, sobrinho e discípulo, descobrir quem foi o autor de tal crime.
Duarte Cai-Água Martins - nº6 - 11ºB
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